março 04, 2010

Expus esse trabalho em vários lugares e o impressionante é que a cada vez, quando questionada pela imprensa ou em debates, tenho sempre algo a acrescentar às interpretações sobre o mesmo fato, as mesmas experiências.
Geralmente a metáfora sobrepõe-se ao foco - que é a prisão como condição feminina, como embate ao espaço em si - e todos querem muito saber sobre as detentas.
Delas posso dizer que são seres comuns, com sentimentos comuns.
Algumas tiveram resistência aos primeiros encontros,
mas logo se renderam, à medida que eu voltava
e levava fotos delas, imagens, revistas.
Retomava assuntos conversados.

Quando se estabelecia uma relação de convívio, enfim.
Se criava um vínculo humano.
Cinco delas, do presídio em regime semi aberto do Ahú
- que trabalham em empresas durante o dia
e voltam às suas celas ao final do dia , transportadas pelo presídio -
autorizaram que eu fotografasse suas rotinas.
Na segunda semana, ( eu passei os sábados de três meses com elas ) ,
das cinco, três fugiram.

As duas que ficaram, a Rose e a Tânia,
não foram por seus respectivos motivos:
A Rose estava a apenas quatro meses
do final da sua pena e não quis se complicar.
Tânia era soro positivo e dependia dos coquetéis
que não conseguiria como foragida.

Essa dupla está em uma das fotos que postei.
Bem alegres, elas se produziam pra serem fotografadas.
Rose é a magrinha, e Tânia , a loira.
Porque estavam presas?
Longas e fantasiosas histórias que acabavam por
"dançar" junto com os companheiros.
Meio de tontas. Meio por amor.
No presídio de regime fechado,
não retornei a nenhuma das celas.
Me acompanhava uma agente
às reclusões das que queriam falar
e se deixar fotografar.
Poucas quiseram.

Fui cinco vezes, percorrendo uma galeria de solitárias
e outras com beliches acomodando
de seis a oito presidiarias.
O clima de Piraquara foi bem mais tenso que no do Ahú.
Mas nada que me fizesse sentir ameaçada.
No máximo ironias, cantadas, etc...

Mas em outras abordagens,
fora dos presídios,
houveram também boas situações,
como essa da foto acima.
Uma educadora cubana apaixonada por Ho Chi Minh.

Muito bonitinha!
*o trabalho é de 1997, desenvolvido pelos recursos do prêmio marc ferrez de fotografia.

5 comentários:

Jorge Pinheiro disse...

Muito bom. Bom ter divulgado.

Anônimo disse...

O Jorge tem razão! Precisa MAIS divulgação!

Lina Faria disse...

Pois Jorge e Eduardo,
É muito dificil editar livros de fotografia no Brasil.
O custo real é caro e há muita dificuldade em captar recursos.
Esse assunto, também, não é atraente para o marketing.
Enfim, quero ainda publicar um livro com esse material, sim.
Tem fôlego para isso, eu sei.

Zaclis Veiga disse...

Não há muito o que dizer. è um tranalho impressionante e belissímo.
beijo

Lina Faria disse...

Olá, Záclis

Obrigada pelo comentário.
bj.
Lina

Quem sou eu

Minha foto
Curitiba, Paraná, Brazil
Sou fotógrafa e curiosa. Vivo na cidade de Curitiba e gosto de olhar e documentar a relação das pessoas com os espaços em geral. Levo isso ao pé da letra, quando fotografo as ruas e sua ocupação desordenada. Também nos interiores das submoradias, longe de qualquer padrão de ordem mas com um sentido de segurança, mesmo que penduradas e vulneráveis à primeira chuva. Mas tudo isso tendo como compromisso a beleza, a harmonia. Mesmo na realidade de uma favela, resgatar a dignidade através do belo é o que me interessa. Gosto também, e muito, de design e arquitetura. Da social à contemporânea, o gosto pelo ocupar me interessa. contato: linafaria@yahoo.com.br
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