Geralmente a metáfora sobrepõe-se ao foco - que é a prisão como condição feminina, como embate ao espaço em si - e todos querem muito saber sobre as detentas.
Delas posso dizer que são seres comuns, com sentimentos comuns.
Algumas tiveram resistência aos primeiros encontros,
mas logo se renderam, à medida que eu voltava
e levava fotos delas, imagens, revistas.
Retomava assuntos conversados.
Quando se estabelecia uma relação de convívio, enfim.
Se criava um vínculo humano.
Cinco delas, do presídio em regime semi aberto do Ahú
- que trabalham em empresas durante o dia
e voltam às suas celas ao final do dia , transportadas pelo presídio -
autorizaram que eu fotografasse suas rotinas.
Na segunda semana, ( eu passei os sábados de três meses com elas ) ,
das cinco, três fugiram.
As duas que ficaram, a Rose e a Tânia,
não foram por seus respectivos motivos:
A Rose estava a apenas quatro meses
do final da sua pena e não quis se complicar.
Tânia era soro positivo e dependia dos coquetéis
que não conseguiria como foragida.
Essa dupla está em uma das fotos que postei.
Bem alegres, elas se produziam pra serem fotografadas.
Rose é a magrinha, e Tânia , a loira.
Porque estavam presas?
Longas e fantasiosas histórias que acabavam por
"dançar" junto com os companheiros.
Meio de tontas. Meio por amor.
No presídio de regime fechado,
não retornei a nenhuma das celas.
Me acompanhava uma agente
às reclusões das que queriam falar
e se deixar fotografar.
Poucas quiseram.
Fui cinco vezes, percorrendo uma galeria de solitárias
e outras com beliches acomodando
de seis a oito presidiarias.
O clima de Piraquara foi bem mais tenso que no do Ahú.
Mas nada que me fizesse sentir ameaçada.
No máximo ironias, cantadas, etc...
Mas em outras abordagens,
fora dos presídios,
houveram também boas situações,
como essa da foto acima.
Uma educadora cubana apaixonada por Ho Chi Minh.
Muito bonitinha!
*o trabalho é de 1997, desenvolvido pelos recursos do prêmio marc ferrez de fotografia.
5 comentários:
Muito bom. Bom ter divulgado.
O Jorge tem razão! Precisa MAIS divulgação!
Pois Jorge e Eduardo,
É muito dificil editar livros de fotografia no Brasil.
O custo real é caro e há muita dificuldade em captar recursos.
Esse assunto, também, não é atraente para o marketing.
Enfim, quero ainda publicar um livro com esse material, sim.
Tem fôlego para isso, eu sei.
Não há muito o que dizer. è um tranalho impressionante e belissímo.
beijo
Olá, Záclis
Obrigada pelo comentário.
bj.
Lina
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