maio 23, 2010






Millôr Fernandes










Cada vez mais encantada com alguns octogenários.
Millôr é um que quanto mais vivido, mais sábio.
Como estou de love com Yehuda Amichai, o genial poeta judeu que descobri há uns doze anos, através das traduções e publicações de de Millôr, nada mais justo que postar esse texto dele, sempre atual:


"Agora vamos



Falei e disse, em 2005. Repito agora.


É visível – o comunismo vem aí. Ou melhor, já está aí. Depois de uma experiência de 70 anos dominando a Rússia, agrupando-a com vários outros países, regiões e etnias, Letônia, Geórgia, Azerbaijão, eslavos, pra formar a gloriosa União Soviética, parecia que tínhamos chegado lá.


Pois tinha ainda, em muitos países, a "infiltração", pra consumar a igualdade absoluta. Global. Só que havia um erro fundamental na filosofia comuna: a igualdade vinha por baixo, através da pobreza. Quer dizer, todo mundo ia ser igualmente pobre. Ora, os ricos não acreditavam que iam ser. E os pobres não queriam ser. Pois é, o erro foi o comunismo bater de frente com o capitalismo. Sem perceber que o capitalismo ia comendo o comunismo pelas beiradas.


Quase ao mesmo tempo em que o comunismo crescia (em 1917, na Rússia, uns 100 milhões de pessoas; em 1949, na China, 1 bilhão), o capitalismo, sempre esperto, inventava e assumia, assim como quem não quer nada, o primeiro grande símbolo comunista universal e perene, o Blue Jeans.


Cujo nascimento o Google explica de várias maneiras, sem saber que vem das calças usadas por marinheiros de Gênova (pelo francês, Gênes). O mesmo Google, Bíblia dos Insensatos, dá o grande estouro do Jeans acontecendo durante o baby boom dos anos 60.


Pois revelo. Em 1948 o Blue Jeans já andava pelas ruas de Nossa Senhora de Los Angeles de Porciúncula. Carmem Miranda, o físico César Lattes, Vinicius de Moraes e eu estávamos lá. O Google ainda não.


Agora, e vocês todos participam, a grande dominação comunista também é capitalista – o celular. Que, ao contrário do Jeans, não partiu de baixo pra cima (dos trabalhadores pro resto do universo), mas de cima pra baixo (elite primeiro, logo o proletariado).

É o Paraíso. A eficiência capitalista aliada à utopia comunista. A China já está nessa mistura – 1/6 da humanidade. Um bilhão, duzentos e vinte milhões de gentes.


Para a felicidade universal temos apenas que acabar com a guerra no Iraque, e outras dez por aí, a violência do tráfico de drogas e da política, erradicar a corrupção do chefe de Estado e do guarda da esquina, cuidar da camada de ozônio, evitar os tsunamis, controlar os efeitos da poluição – gelo nos trópicos, calor nos pólos. Ah, e acabar com a aids."

Millôr Fernandes,  http://www2.uol.com.br/millor/





Nenhum comentário:

Quem sou eu

Minha foto
Curitiba, Paraná, Brazil
Sou fotógrafa e curiosa. Vivo na cidade de Curitiba e gosto de olhar e documentar a relação das pessoas com os espaços em geral. Levo isso ao pé da letra, quando fotografo as ruas e sua ocupação desordenada. Também nos interiores das submoradias, longe de qualquer padrão de ordem mas com um sentido de segurança, mesmo que penduradas e vulneráveis à primeira chuva. Mas tudo isso tendo como compromisso a beleza, a harmonia. Mesmo na realidade de uma favela, resgatar a dignidade através do belo é o que me interessa. Gosto também, e muito, de design e arquitetura. Da social à contemporânea, o gosto pelo ocupar me interessa. contato: linafaria@yahoo.com.br
Todos os direitos reservados à autora.
Fotos podem ser copiadas desde que com menção à fotógrafa e sem fins comerciais.

Desafio de março

Desafio de março

Minha lista de blogs

Seguidores

Arquivo do blog

em foco