Nipomaniaca
O Dia da Boneca
Como em "Sonhos" do mestre Kurosawa, fui atraída e levada pelo vento à Rua das Flores, onde as cerejeiras estão em plena florada.
É o "Dia da Boneca", quando no Japão festeja-se com danças onde figuras mascaradas representam os espíritos das árvores.
No filme de Akira Kurosawa, nesse dia um garoto é levado a um plantio de pessegueiros e quando lá chega, pra seu espanto, todas as árvores haviam sido abatidas. Não há mais o que celebrar. O menino põe-se a chorar.
Após uma chuva de pétalas, as flores começam a brotar nas árvores.
Na minha cidade, levada por esse espírito nipônico, passei pela Quinze, como chamo a Rua das Flores que oficialmente é XV de Novembro.
É julho, é inverno e o presente que o Imperador do Japão trouxe em sua visita ao Brasil há mais de vinte anos esta lá, dando o toque oriental à rua mais frequentada pelo curitibano.
Exuberantes as flores de cerejeiras aos cachos, enfeitando a sala de estar da cidade.
Emocionante como o belo, a intenção e o conjunto de tudo isso melhora qualquer lugar. Qualquer espaço.
Fiquei muito tempo andando sob elas, celebrando, namorando, olhando cada ângulo desse presente ao coletivo.
As pessoas, muitas paravam perguntando se era ipê. Outras, que passam todos os dias por ali e não tinham notado, comentavam, sacando do celular e fotografando.
A partir daí muitos fotografaram e levaram pra casa um cenário que ao vivo quase passava despercebido. Pode?
Umas turistas japonesas se maravilham e registram tudo. Sempre com elas juntas, claro.
Volto pra casa bem feliz. Não chego a dançar, não sou boneca!
Mas me delicio com minha cidade vestida à cerejeira.
Corro pra cá repartir e contar a todos a novidade.
Só não se iludam, não dá frutos.
Curitiba não é tão fria assim.
Gente, coincidência (existe?), mas começam a vir à baila assuntos nipônicos na minha vida, um atrás do outro.
Sempre me auto denominei nipomaniaca. Não, em questões de relações bíblicas, não. Nunca rolou.
Mas a cultura japonesa esteve presente na minha vida em tenra idade.
Nasci em Nova Esperança, terra onde muitos deles se fixaram, e minha mãe, casada aos dezesseis, foi de Curitiba para o interior e apegou-se a uma família dessas que a "adotou"no convívio. A cultura deles, muito diferente da que minha mãe vinha, era, digamos, mais delicada, humanizada mesmo que as dos desbravadores. Tomávamos banho de ofurô, mas numa tina com fogo em baixo. Crianças primeiro, com uma prévia de esguicho, aquele mesmo caldo era usado por toda a família. Minha mãe detestava quando eu tomava banho na casa deles e eu adorava!
Sushi, sashimi com peixes de água doce, são paladares familiares a mim.
Gosto também de haicai, de Issa, Bachô.
E seda! Nova Esperança, soube ainda não vi, tem feito peças interessantes com seda.
A cidade é grande produtora do fio. Muitos bichos da seda comem amoras e fiam, compulsivamente, enquanto mulheres tramam e dão forma à preciosa matéria deixada pelas lagartas.
Ufa! Viajei.
Pior, não 180° pra ir para o Japão.
Viajei 360° e cá estou no mesmo lugar.
*Não tem sushi, nem shoyo, nem vela...
*saravá, glauco!
2 comentários:
lininha, beijinho pelas suas fotos das cerejeiras da xv; uma revelação, as cerejeiras, não as fotos. Mande algumas pro blog negopessoa.com/blog
merci beaucoup
carlos alberto,
vulgo nego pessoa,
mas pode me chamar de
norma sueli.
Nego Persona!
Que honra você por aqui.
Mando sim, as fotos.
Ahaha...
te confundi com a outra Norma.
Postar um comentário