março 09, 2011


















Endereço do Momo

A boa nova desse Carnaval é que os organizadores caíram em si (quando os burocratas caem em si, sai debaixo!) e pretendem devolver o desfile das Escolas de Samba à avenida Marechal Floriano. De onde nunca devia ter saído, diga-se.

E digo isso com a modesta experiência de quem já fundou a Banda Polaca, de quem já foi presidente da Comissão de Carnaval e, o que mais interessa ao que tenho a dizer, também já fiz a decoração da avenida nos bons tempos do Carnaval no centro da cidade.

Não sei quem teve a ideia de transferir o desfile para o Centro Cívico, mas presumo que os responsáveis são da mesma descendência daquelas múmias que no início do século passado proibiram serenatas nas ruas de Curitiba. Nos conta o consultor permanente do Patrimônio Natural do Paraná e memorialista, Henrique Paulo Schmidlin (hoje com 80 anos, o popular Vitamina escreve um diário desde a juventude), que até então era comum os apaixonados transportarem até pianos para as suas serenatas. Acordes de violas esquentavam as noites de inverno e foi a partir daquela lei do silêncio que a cidade passou a ser conhecida como “Curitiba, a fria”.

Naqueles tempos do Entrudo, as pessoas avessas à folia entravam numa cova rasa e se cobriam com palhas e folhas secas. Permaneciam enterradas vivas até quarta-feira de cinzas, para levar o diabo a pensar que estavam mortas e, assim, se esconder das tentações.

O verdadeiro endereço do Rei Momo é na Avenida Marechal Deodoro. Mais precisamente na esquina com Marechal Floriano. Quando levaram Sua Majestade para o Centro Cívico, o despejaram de casa. Com todo respeito às boas intenções do ex-governador Bento Munhoz da Rocha Netto, mas o Centro Cívico é o grande cemitério de Curitiba. E a constatação está no ermo daquelas cercanias: durante o dia lá não reconhecemos vida inteligente e durante a noite não encontramos alma viva.

Quem planejou a transferência do Momo da Marechal Deodoro para o Centro Cívico estava de conluio com aqueles que querem desterrar o Momo. Decretar seu exílio numa pousada da Ilha do Mel, sem direito nem mesmo a que um cachorro vira-lata lhe acene com o rabo em sinal de boas vindas.

Quando confundiram Carnaval com Semana da Pátria, a verdadeira intenção era fazer com que o Carnaval definhasse de fome e frio no descampado do Palácio Iguaçu, onde nem mesmo existem botecos de esquina para um trago de cachaça. E dia virá que o sucesso do bloco Garibaldis e Sacis, de tanto incomodar, será removido do Centro Histórico para o Aterro da Caximba.

O povo gosta de ser recebido com o que temos do bom e do melhor, de preferência na sala de visita. E a Marechal Deodoro é uma das salas de visita de Curitiba. O Centro Cívico é o quarto de despejo.  

Dante Mendonça (O Estado do Paraná/Tribuna do Paraná)














Não concordo que o Centro cívico seja o quarto de despejo da cidade.


As Marechais também não têm mais esse aconchego de botecos de então. Viraram todos lojas de celulares, bancos. Espaços também ermos à noite e nos fins de semana.
Já o "baixo São Francisco", região que vai do Largo da Ordem até o ParCão - como balizaram o espaço - atrás do MON, está virando um eixo de Cultura importante de muitas tribos.
Certamente não esse público que vem uma vez por ano, no Carnaval, mas ciclistas, punks, punks da periferia, emos, cachorreiros, frequentadores de cinemas do Shoppings, etc...

Já o público do Carnaval é aquele que vem como num grito de guerra, da vila, para dizer: OLHA NÓS AQUI! VEJA NOSSO ESPAÇO DENTRO DESSA COISA CHAMADA CIDADE!
Claro, seria ótimo se nosso Carnaval integrasse, como acontecia nos tempos citados por Dante, as comunidades da periferia com as do centro. Que o curitibano comum, do centro e dos bairros,  fosse ao espetáculo, em forma de união, celebração, folia mesmo!
Os jornalistas iam cobrir e entravam na farra. Formavam blocos no Operário. Havia Carnaval nos curitibanos que tocavam a cidade.

Hoje mudou o Carnaval, mudou o comando e misturou tudo.
Mas não se enganem achando ou acreditando que o Carnaval em Curitiba morreu.
Apenas só sobraram os  que vivem dele e os que vivem pra ele.
O primeiro grupo, infelizmente, é maior que o segundo .
Mas quem vive pro samba, quem tem o sonho da passarela, mesmo que na fria Curitiba,
não merece ser alvo de extinção de quem há anos não para pra ver.

Vivam suas vidas e deixem viver o Carnaval curitibano.
Em que lugar do mundo, em pleno Carnaval, um grupo de zumbis sai do cemitério em rumo à cidade, sem ser atropelado por nenhum contagiante  e agressivo bloco de alegria?
É Psycho Carnival.
Só em Curitiba, a fria.

Ah, e também, provavelmente o Carnaval volte mesmo à Rua Marechal, já que o espaço da Cândido de Abreu entra em obras.




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Curitiba, Paraná, Brazil
Sou fotógrafa e curiosa. Vivo na cidade de Curitiba e gosto de olhar e documentar a relação das pessoas com os espaços em geral. Levo isso ao pé da letra, quando fotografo as ruas e sua ocupação desordenada. Também nos interiores das submoradias, longe de qualquer padrão de ordem mas com um sentido de segurança, mesmo que penduradas e vulneráveis à primeira chuva. Mas tudo isso tendo como compromisso a beleza, a harmonia. Mesmo na realidade de uma favela, resgatar a dignidade através do belo é o que me interessa. Gosto também, e muito, de design e arquitetura. Da social à contemporânea, o gosto pelo ocupar me interessa. contato: linafaria@yahoo.com.br
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