GELSON DOMINGOS BY SOLDA
"Morrer é muito particular", diz Soldinha, ou "Cada homem é uma humanidade, uma história universal", disse Jules Michelet, escritor francês.
A morte desse cinegrafista da Band durante o sacro ofício de registrar para a história essa guerra civil que vivemos na "cidade maravilhosa", me deixou completamente desarvorada.
Fico pensando, cá com meus velcros, o que vale a pena nessa vida.
Porque viver é agir com o que acontece. É trabalhar e cumprir civilmente sua parte na sociedade em que o destino escolheu ou a mente conduziu cada ser.
Questão de estrela e/ou oportunidade, esse moço escolheu na vida documentar, filmar, gravar, fotografar, sei lá, a vida como ela é.
Isso lhe custou a própria vida.
Mas filmar, gravar a realidade eletronicamente, fotografar, parece com não morrer pra quem escolheu isso como missão.
Porque os anos contam histórias que o dia desconhece.
Se naquela hora o profissional, junto a tropa de ataque da policia, decidiu por avançar em sua ação, é porque ele sabia que aquele momento fazia parte de uma história universal.
Não, certamente ele não contava com o pior.
Porque o profissional, quando no calor do envolvimento com o fato, fica cego ao risco do entorno.
Nunca fui a uma guerra mas já vivi situações de risco só dimensionada após o fato acontecido.
Motins de presos, como um que acompanhei em Cuiabá,
onde no dia seguinte percebi que o portão que me servia de escudo estava uma peneira, enquanto eu cavava um buraco no chão para que a lente pudesse registrar a tomada de assalto.
Porque o olho é o monitor da vida e a prova de que ela tem razão, ou não. Se estou diante de um fato que tem que ser levado a público pela sua relevância, tenho que cumprir a risca meus instintos e meus sentidos. Essa é minha arma e ninguém falou que era fácil.
Agora, o custo beneficio do risco tem que ser medido.
Certamente não me arriscaria em ser eletrocutada
em um parque de diversões eletrônicas em uma noite de chuva,para registrar um investimento de outro que esqueceu de combinar com São Pedro sobre a metereologia.
Há limites de profissionalismo.
Há critérios e bom senso quanto a esses limites, também.
Sempre se faz o possível. Isso é profissionalismo.
Já os resultados têm que ser medidos e avaliados para que os anos venham a polir as horas em as adversidades metereológicas e físicas que nos vencem.
Gerson Domingos, ceifado quando trabalhava num dos dias da semana que formalmente seria de descanso e ele carregava no nome,
nos deixa esse legado, esse exemplo de sustentar até o fim sua condição de repórter.
Certamente eu, você profissional da área, estivesse lá, faríamos o mesmo que o cinegrafista.
A causa, apesar de absurda, é real, está acontecendo e tem que ser mostrada.
Já quando é comércio, negócio, há que se medir, sim, os riscos. Se não material, de segurança física.
Gelson Domingos mostrou que o estilo não passa do movimento da alma de cada um.
E nossa alma é movida por um fiel da balança que determina o que é ou não é questão de vida ou morte.
Ele foi só mais uma vitima da realidade de quem vive essa guerra civil, mas entra como um universo na história do mundo.
Que ache a paz para onde foi, amém.
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