O Haraton foi o cara mais solo que conheci.
Inteligente, curioso, aprendeu muito pela literatura, a música e o convívio com uma geração da pesada, sem sair da redoma que criou para si.
Curiosa que também sou, cheguei a transpor essa redoma pois aquela pessoa que chegava nas entrevistas coletivas calado, sumia e publicava a melhor e mais ousada leitura que um olho possa fazer da foto verdade, com a melhor impressão do mundo, no diário O ESTADO DO PARANÁ, era muito instigante.
Namorei o Haraton, o que causava incômodo à sociedade. Eramos aparentemente, muito diferentes. Isso há trinta anos, quando fizemos juntos muitas cópias 50 x 60 cm, num porão da rua Mateus Leme.
Tinha mágoa de mim, por isso nunca mais nos falamos.
Agora foi embora. Já tinha ido embora de mim há décadas.
Muito respeito e admiração por um artista sofisticado e de difícil leitura. Era, acreditem, um erudito. Tinha um gosto requintado que ia de Rolling Stones a Mozart.
Intenso, sentia-se incompreendido. Recolheu-se, há anos, para morrer só.
Que tenha sossêgo, onde quer que possa estar, amém.
Li no blog do zó beto:
Haraton Maravalhas, adeus
25 dez 2011 - 21:07
No dia 15 de setembro deste ano publicamos um S.O.S. por Haraton Maravalhas. Há pouco soubemos que sua ex-companheira Telma Serur avisou pelo Facebook que o corpo dele foi encontrado em casa ontem. Estava morto há três dias. Notícia triste demais neste dia de Natal. Maravalhas morreu sozinho. Sozinho viveu parte da vida. Porque ele era fechado em si mesmo. E revelava-se nas fotografias. Foi um dos grandes. Nos encontramos algumas vezes nestas últimas três décadas. Não sei como era a sua voz. Sei como eram suas fotos. Tinha a sensibilidade dos que sofrem a dor da vida, mas conseguem enxergar a poesia da vida. Paradoxal, sim, mas compreensível. Se ganhou um Prêmio Nikon Internacional, um dos principais do universo fotográfico, nos últimos tempos morava num porão, aposentado por invalidez, ganhando R$ 800, situação que o fez procurar ajuda para tentar um abrigo que lhe desse um mínimo de conforto para sobrevivência. Pelo jeito, não conseguiu. Tinha seis filhos. Na vida profissional, deixou como legado a criação do acervo fotográfico da Casa da Memória. Do zero, quando saiu de lá havia milhares de negativos e fotos do patrimônio histórico da cidade. Fez tudo em silêncio, por amor à sua arte. Talvez por isso não tenha recebido o reconhecimento devido. Trabalhou com Jaime Lerner, Rafael Greca e com René Dotti na Secretaria de Estado da Cultura. Quando ainda não estava debilitado totalmente, passeava com um cachorro pelas ruas do Centro Cívico. É última imagem que tenho dele. Nos registros da prefeitura, a informação de que seu corpo foi cremado, sem velório. O acervo de sua obra fotográfica está por aí. Para ser salvo.
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