PONTE PRETA
no princípio era o caos, o érebo, o vazio...
depois veio gaia, a terra, a mãe.
e fez-se o palco da dor e da vida.
cada qual que nele sobe, prepara-se ou não,
para viver seu drama!
hesíodo disse mais ou menos isso na sua teogonia
Se a tendência é a verticalização de tudo, então a Ponte Preta está pra lá de defasada.
Como estou eu. Como estará você, daqui a algumas horas.
O cara criva, de porta em porta, seus olhos e mãos para colher os restos sinceros de uma máquina avassaladora: o fluxo.
À noite, voltando para a periferia, onde vai chegar quase sempre junto à família toda pois a caça é coletiva, em seu caminho há a barreira de uma ponte.
O limite é 3,60 m.
Quem nunca entalou-se àquela altura da
João Negrão, já viu algum colega carrinheiro nessa condição.
Mas ela esta lá há um século.
Já viu passar sob si vários corpos, vários volumes.
Perdeu-se como escala, ficou rasteira.
Mas hoje, quando assiste a esse exercito de catadores de restos do consumo urbano, às vezes não vence acolhe-los na passagem, prendendo-os em sua altura. Esses, gastando mais de seu tempo, livram-se do excesso de carga e passam a respeitar mais o limite dessa senhora de ferro.
Também sob ela, famílias de retirantes, mendigos e quem mora na rua, usam de seu abrigo para descansar.
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