Em Porto Amazonas, foto de Lina Faria.
O Rio Iguaçu guarda mistérios que vêm de longe. De Curitiba, testemunham os ribeirinhos, na forma de garrafas plásticas, sacolas com lixo, animais mortos, tapetes, fraldas descartáveis e demais monstros aquáticos. Partindo do primeiro planalto, o Rio Iguaçu é o segundo mais poluído do País, atrás apenas do Rio Tietê, em São Paulo.
Dos mistérios na forma de monstros da melhor tradição monstruosa, é da bruma do Iguaçu o maior criame de lobisomens do Brasil. Nunca se viu fenômeno igual no mundo, nem mesmo em São Paulo, comprovadamente um estado criador de monstros como Jânio Quadros, Paulo Maluf e outras anomalias de natureza política.
O lobisomem (ou “licantropo”, do nome mítico do rei Licaão) é um ser lendário, com origem em tradições europeias, segundo as quais um homem pode se transformar em lobo ou qualquer coisa que o valha, em noites em que o energúmeno sente extremo azedume de espírito, só voltando à forma humana novamente com a cabeça igual aos semelhantes.
A besta aparece, conforme relatos, para assustar criancinhas europeias, em noites de lua cheia. No Paraná, mesmo com as histórias da carochinha dos imigrantes, os lobisomens só aparecem nas noites brumosas à beira do Rio Iguaçu.
No Rio Iguaçu, já foram vistos licantropos em São José dos Pinhais (na nascente), União da Vitória, Guarapuava, nas usinas hidrelétricas ao longo do curso. Porém, é em Porto Amazonas onde foi registrado o maior número de lobisomens em cartório, com nome, sobrenome e firma registrada.
Gumercindo Padilha era um deles, contam os velhos nativos de Porto Amazonas. Certa feita, Gumercindo saiu para dançar com a patroa em um sítio na margem do Iguaçu, num salão de baile chamado “Pau do Meio”. O nome (em que pese o sentido oculto) vinha da enorme peroba que, no meio do tablado, sustentava a cobertura de quatro bicos, com um puxadinho no fundo para as necessidades urgentes.
Da roça do Gumercindo até o “Pau do Meio” levava uma hora de caminhada na ida, duas horas na volta, por efeito do farto “piwo”, a cerveja dos polacos. Naquela noite brumosa no Rio Iguaçu, o baile foi bom, mas a volta é que foi ruim.
O patrão com roupa de missa vinha na frente, tropicando; a patroa vinha na retaguarda de vestido longo e encarnado (caiu de moda, hoje não se usam mais vestidos longos e encarnados).
Numa das curvas do rio, onde não se enxergava dois palmos além, Gumercindo parou a marcha e foi descarregar o “piwo” no pinheiral. Ela estancou, ficou aguardando embaixo de um pé de pera de providencial altura. Passaram-se 15 minutos, e eis o monstro: um lobisomem saiu da bruma em direção da mulher de vestido encarnado, como se fosse um chifrudo investindo no toureiro. Aterrorizada, a mulher de pronto trepou na pereira, em três braçadas se acomodou trêmula do terceiro galho.
O bicho feio, tipo um cachorro do mato ou coisa parecida, graças ao bom Deus não alcançou com os dentes pontudos a coxa da senhora. Só mordeu e rasgou o vestido encarnado e, assim como veio, se escafedeu mato adentro.
Outros 15 minutos depois, retornou Gumercindo à estrada. E, como se fosse normal a patroa descansar numa pereira, o trôpego retomou a marcha em direção ao sítio. Com a dama de vestido rasgado atrás, depois de ter quebrado o salto do sapato na queda do terceiro galho.
Na manhã seguinte, Gumercindo acordou às cinco da manhã para o batente na roça da batatinha. O despertador, a família não tinha. O despertar se fazia com o cheiro do café forte que vinha da cozinha. Ao se abancar para a primeira refeição (apenas café com pão, antes do bife com ovos do pequeno almoço do meio da manhã) a dona “ficou sem chão”, como se diz hoje.
Entre os dentes caninos de Gumercindo, como se fossem fiapos de manga, restos do vestido encarnado!
***
Em Porto Amazonas, Tico Morgado nos contou o acontecido. Quem é esta bela figura que jogou
Dos mistérios na forma de monstros da melhor tradição monstruosa, é da bruma do Iguaçu o maior criame de lobisomens do Brasil. Nunca se viu fenômeno igual no mundo, nem mesmo em São Paulo, comprovadamente um estado criador de monstros como Jânio Quadros, Paulo Maluf e outras anomalias de natureza política.
O lobisomem (ou “licantropo”, do nome mítico do rei Licaão) é um ser lendário, com origem em tradições europeias, segundo as quais um homem pode se transformar em lobo ou qualquer coisa que o valha, em noites em que o energúmeno sente extremo azedume de espírito, só voltando à forma humana novamente com a cabeça igual aos semelhantes.
A besta aparece, conforme relatos, para assustar criancinhas europeias, em noites de lua cheia. No Paraná, mesmo com as histórias da carochinha dos imigrantes, os lobisomens só aparecem nas noites brumosas à beira do Rio Iguaçu.
No Rio Iguaçu, já foram vistos licantropos em São José dos Pinhais (na nascente), União da Vitória, Guarapuava, nas usinas hidrelétricas ao longo do curso. Porém, é em Porto Amazonas onde foi registrado o maior número de lobisomens em cartório, com nome, sobrenome e firma registrada.
Gumercindo Padilha era um deles, contam os velhos nativos de Porto Amazonas. Certa feita, Gumercindo saiu para dançar com a patroa em um sítio na margem do Iguaçu, num salão de baile chamado “Pau do Meio”. O nome (em que pese o sentido oculto) vinha da enorme peroba que, no meio do tablado, sustentava a cobertura de quatro bicos, com um puxadinho no fundo para as necessidades urgentes.
Da roça do Gumercindo até o “Pau do Meio” levava uma hora de caminhada na ida, duas horas na volta, por efeito do farto “piwo”, a cerveja dos polacos. Naquela noite brumosa no Rio Iguaçu, o baile foi bom, mas a volta é que foi ruim.
O patrão com roupa de missa vinha na frente, tropicando; a patroa vinha na retaguarda de vestido longo e encarnado (caiu de moda, hoje não se usam mais vestidos longos e encarnados).
Numa das curvas do rio, onde não se enxergava dois palmos além, Gumercindo parou a marcha e foi descarregar o “piwo” no pinheiral. Ela estancou, ficou aguardando embaixo de um pé de pera de providencial altura. Passaram-se 15 minutos, e eis o monstro: um lobisomem saiu da bruma em direção da mulher de vestido encarnado, como se fosse um chifrudo investindo no toureiro. Aterrorizada, a mulher de pronto trepou na pereira, em três braçadas se acomodou trêmula do terceiro galho.
O bicho feio, tipo um cachorro do mato ou coisa parecida, graças ao bom Deus não alcançou com os dentes pontudos a coxa da senhora. Só mordeu e rasgou o vestido encarnado e, assim como veio, se escafedeu mato adentro.
Outros 15 minutos depois, retornou Gumercindo à estrada. E, como se fosse normal a patroa descansar numa pereira, o trôpego retomou a marcha em direção ao sítio. Com a dama de vestido rasgado atrás, depois de ter quebrado o salto do sapato na queda do terceiro galho.
Na manhã seguinte, Gumercindo acordou às cinco da manhã para o batente na roça da batatinha. O despertador, a família não tinha. O despertar se fazia com o cheiro do café forte que vinha da cozinha. Ao se abancar para a primeira refeição (apenas café com pão, antes do bife com ovos do pequeno almoço do meio da manhã) a dona “ficou sem chão”, como se diz hoje.
Entre os dentes caninos de Gumercindo, como se fossem fiapos de manga, restos do vestido encarnado!
***
Em Porto Amazonas, Tico Morgado nos contou o acontecido. Quem é esta bela figura que jogou
no Botafogo ao lado de Garrincha?
Dante Mendonça (20/8/2009) O Estado do Paraná.


2 comentários:
Bela reportagem!
Bela crônica do Dante, Eduardo.
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