No quarto do hotel,
o poeta lê a História da Guerra do Peloponeso,
escreve sobre o incenso pressentido
e fala de uma carta de baralho acaso encontrada na rua.
A dama de copas dança na superfície da voz áspera,
e o poeta é grave,
o busto se erguendo em pedra.
Nos olhos, uma frota de navios afundados.
Uma cerveja, dez, um terraço inteiro,
uma piscina cheia até a boca
(que espaço pode ocupar uma mulher
na vida de um homem?)
O poeta é um pêndulo,
pênsil, aqui Eros,
ali Tanatos.
Acima, o deus azul das tardes de outono.
Abaixo, nove andares e um cachorro que late, late,
late ferozmente.
Paulo Vitola
9 comentários:
Belo poema. E a janela parece uma janela novaiorquina. A vida em preto-e-branco é mais colorida.
Bjs
O poeta a que se refere o poeta não é outro senão seu amado amigo e xará, Paulo Leminski, e esse poema denso reflete o que foi talvez a última conversa entre os dois, na cobertura do hotel onde o Polaco passou seus últimos dias, para tristeza de todos nós.
As palavras de Vitola reproduzem o estado de espírito de Leminski, a pressentir o fim:
"(...) o poeta é grave,
o busto se erguendo em pedra.
Nos olhos, uma frota de navios afundados.
Mostra que apesar de girar em torno da mulher, ou do amor, a atitude moral de Leminski evocava a morte:
"O poeta é um pêndulo,
pênsil, aqui Eros,
ali Tanatos."
E aqui meu comment fica também grave, sem a brincadeira que fizemos lá no Solda, Lina.
Prefiro quando é tudo brincadeira, pois a realidade é em geral desconfortável para os espíritos menos bravos, feito esse meu.
San, senti no Tanatus uma expressão mais grave, sim.
Que bela explicação nos deu.
Quanto ao que você observou sobre algo que fosse real, sorry, eu sempre estou brincando. Tomarei mais cuidado, seja lá o que isso for.
Easy, Nervosa. Sem entender muito, vou me comportar. hehehe...
Vita,
leu as informações de bastidores da San, sobre o poema?
fica ainda mais bonito.
a janela é uma da tua Sampa.
beijo!
Belíssima a foto, Lina. Sobre o poema, creio que a San já disse tudo. Obrigado por publicá-lo aqui também, nesse espaço tão bacana.
Não, por favor, Lina, não deixe de brincar jamais. É exatamente isso que eu prefiro, a brincadeira. O lado grave da vida me deixa muito tensa. Tristeza não tem fim, felicidade sim. Então vamos lidar mais com a felicidade, a brindeira, o riso. O riso, sempre, Lina. Não mude isso, está bem? Espero rir muito com você, sempre.
Ah, e quanto à foto, achei uma beleza mesmo. Adoro suas fotos, essa nova coleção que você postou está especialmente espetacular, parabéns, seu trabalho é encantador. Mas ainda vou comentar uma por uma, pode deixar. Você sabe, sou uma comentadora contumaz. 'Quanto mais' eu comento mais eu quero comentar, haha. Beijo.
San,
você dá glamour por aqui, guria.
vamos rir que é de graça!
Querido Vítola, esse post está cheio de Vita, apesar de Tanatus ter rondado...
Obrigada por passar por aqui.
bjs a toda essa vitalidade!
Vitola,
Belissimo poema o seu. Gosto desse pulsar, das imagens que você usou que ganham dramaticidade (Nos olhos, uma frota de navios afundados.)
Parabéns!
Obrigado, Vita! Bacana que você gostou. O Solda, a San e a Lina têm publicado poemas meus quase todos os dias. Fiquei sabendo que você também tem um blog. Vou passear por lá e depois comento. Um abraço!
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