dezembro 19, 2011





Com quantos Paulos

(Paulo Leminski)



"paulos paulos paulos

quantos paulos são preciso

para fazer um são paulo?



idades idades idades

quanto dá uma alma

dividida por duas cidades? "



       foto lee swain, http://www.euemeuchapeu.com.br/




Minha vida sempre foi ligada a essas duas cidades.

Nasci do interior do Paraná, para onde meus pais que eram de Curitiba,  foram desbravar as últimas fronteiras do Estado.
Escrivão de Polícia, como o pai do artista Rogério Dias, ele percorreu várias cidades pois, correto e cheio de opiniões, resistia às tentações de coação através de ofertas de cartórios e outras benesses nunca bem intencionadas. Suas rebelações e declínio ao fácil, o condenava a constantes transferências.

Nasci em Nova Esperança, noroeste do Paraná, por isso não sou pé vermelho, mas pé arenito caiuá, ou kaiuwá.
Saí de lá com oito meses, mas voltei algumas vezes em visita à minha madrinha japonesa, onde comi na tenra idade sashimi e também tomei muito banho de ofurô. Adoro a cultura japonesa. Sou nessa, nipomaníaca.


Criei-me, pois, sofrendo mais influências de São Paulo que de Curitiba.

Aos dezesseis saí de casa para estudar, vindo para Curitiba.
Aos vinte fui para São Paulo. 
Já quando saia de casa, cheguei a sugerir que fosse a São Paulo estudar jornalismo na Kásper Líbero, o que todos da família acharam um absurdo.
Aqui teria o apoio e controle da família, tudo ao qual eu fugia.
Não deu ostra. Na primeira oportunidade fui para o Rio, onde ví que o mercado era complicado, acabando por desembocar em São Paulo.

Lá, incrível, acabei por conhecer e trabalhar, puro acaso, com toda uma elite pensante, a qual só com o tempo posso avaliar.

Em Sampa fiz de um tudo.
Voltei a estudar na Anhembi, faculdade que ficava na Rua Casa do Ator, onde fui aluna de fotografia de Boris Kossoy, grande historiador, que nos apresentou Mojica Marins, Walter Franco e outras figuras que passo a ter, também ao acaso, oportunidade de conhece-los bem.
Nessa época descubro o cinema, a música, a poesia e o mundo, através da vanguarda de então.
Nomes que hoje são clássicos de vários segmentos e com quem tive a chance de produzir junto e "sacar" seus processos criativos.
`
Tenho ficado apreensíva. Dizem que perto da morte começamos a viver uma retrospectiva de tudo que vivemos. Que meda!
Todo esse lero-lero pra contar o revival que acontece em mim no cotidiano desse ano que se finda.
Como já disse, estou trabalhando na TV Educativa do Paraná, a e-Paraná, onde estou me confrontando com um passado distante de minha trajetória: o musical.
Minha cultura musical, rala, se compôs pela minha própria vivência.

Ao presenciar a competente produção de Jack Daher para o show em comemoração aos 13 anos da Paraná Previdência, no Teatro do Canal da Música, me veio à mente as super produções do Lívio Rangan nos Estúdio de Cangaíba, quando se montavam circos para fotos de moda.
Trabalhei na Gang onde o Cyro del Nero montava aquelas alegoria felinianas, misturadas às modelos. 
Piração total!

Quando me dou de cara com Guarabira, cantando "Eu Caçador de Mim", não resisto. Vou até ele e o faço relembrar da efervência da Rua Alves Guimarães, onde funcionavam vizinhos a Gang, a WEA e a Vice-Versa, estúdio do Duprat. Falei do Magrão, do pessoal do Terço, o Moreno que já se foi, e da Marie Claire, uma amiga em comum.
Com os olhos turvos ele responde: "a Marie Claire também já não está mais aqui."
Baixa o pano de cena, Jack manda todos voltarem a postos e fico eu com um nó no peito e a presença latente daquela menina bonita que me acompanhou o resto do fim de semana.

Podemos deixar Curitiba ou São Paulo, mas elas, as duas, nunca saem da gente.

Claro, Walter Franco também veio junto. Junto a lembrança dele em Sampa, depois aqui, num apartamento em que eu morava, na Praça Carlos Gomes, onde passamos uma noite inteira, Leminski, Alice, Walter, Dico Kremer, Raquelzinha Machado e eu, cantando e elocubrando a poesia e o concreto.
Em seguida, fomos a Porto Alegre, acompanhando aquela Cabeça sustentada pelo gigante bipolar que oscilava entre o delírio e a placides zen de um iogue. Walter, francamente, você representa para mim elos entre o concreto e o belo.

Idades, idades, cidades

quantas cidades precisam

para viver tantas saudades?








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Quem sou eu

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Curitiba, Paraná, Brazil
Sou fotógrafa e curiosa. Vivo na cidade de Curitiba e gosto de olhar e documentar a relação das pessoas com os espaços em geral. Levo isso ao pé da letra, quando fotografo as ruas e sua ocupação desordenada. Também nos interiores das submoradias, longe de qualquer padrão de ordem mas com um sentido de segurança, mesmo que penduradas e vulneráveis à primeira chuva. Mas tudo isso tendo como compromisso a beleza, a harmonia. Mesmo na realidade de uma favela, resgatar a dignidade através do belo é o que me interessa. Gosto também, e muito, de design e arquitetura. Da social à contemporânea, o gosto pelo ocupar me interessa. contato: linafaria@yahoo.com.br
Todos os direitos reservados à autora.
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