dezembro 10, 2009

Encantadas, um Não Lugar?




A Ilha do Mel fica ao sul da baía de Paranaguá. Há os nativos, e os "novos nativos", já que a maioria dos turistas alternativos acabaram por lá ficando, desde os anos '70, e lá tornou-se culturalmente um elo perdido dos BG - bicho-grilos, ou hippies. Eles, por sua vez, na base do paz e amor, fizeram muitos filhos.
Com o tempo, como pode-se ver pelo mapinha, o mar separou-a em duas ilhas. O território maior é a Brasília, o menor, Encantadas.
Brasília ficou sendo mais urbana, frequentada por surfistas e turistas.
Encantadas, onde fui, tornou-se esse reduto de alternativos.
O caso é que as duas, com o tempo, foram se inchando. Com isso o lixo aumentou e começaram os grandes problemas.
Houveram intervenções, com a proibição de novas edificações.
Também o controle sobre o número de turistas é feito. Antes de atravessar com a barca, é feito um cadastro de quem entra, dado um bracelete que deve ser apresentado na volta, que já fica paga na ida.
Porém se o cara alugar um pequeno barco de pescador, entra clandestino. Isso acontece principalmente com turistas que querem levar seus cãozinhos ou gatinhos. É proibida a entra da de bichos. Há cães apenas dos moradores. Poucos, aliás.
Agora, como volto a dizer, o lixo ainda é seu grande problema!
Há venda de retornáveis mas instalaram a central de separação ao lado da prainha mais gostosa de se banhar, o que encheu de urubus.
Banhar-se agora, só do lado de mar aberto.
Como meu interesse é pela relação do homem com seu espaço, mostro aqui a estratégia dos que ali querem viver e fazem moradias de madeira, visto que este sistema é por excelência desmontável e montável novamente. Se chega o Ibama- instituição ambiental- e põe abaixo, eles a levantam em outra área o que dá à moradia um ar de Frankenstein.
Interessante que não pode-se dizer que a arquitetura seja vernácular pois há um visível aculturamento em seus estilos.
Exemplo são os telhados bem inclinados, tipo chalés suíços prontos para escorrer a neve, em pleno mar dos trópicos.

Porém criatividade nos detalhes não lhes faltam. Também o acaso proporciona resultados interessantes quando são de novo levantadas as tábuas de madeiras e pregadas à outras que já trazem suas cores e seus valores, formando figuras geométricas que chegam a nos remeter ao trabalho de Mondrian. É a reciclagem de tudo, junto á estratégia sobrevivência, de quem já não tem mais espaço no sistema estabelecido em nosso continente.

É a miscigenação de gente e materiais, perdidos em algum lugar do Atlântico.

Nos próximos dias postarei minha visão sobre esse sítio nos dias de hoje.
Não posso dizer que seja, nem prá mim que lá passei três dias, um Não Lugar, visto que esse neologismo de Marc Augé conceitualize os espaços que circulamos sem nos fixar ou criar laços afetivos. Meu coração ficou um pouco lá...


7 comentários:

Anônimo disse...

Ótima reportagem! Vou acompanhar!

Dani disse...

Adoro o seu blog, o descobri há alguns dias apenas. A temática do espaço e dos deslocamentos me fascinam.
Moro num não-lugar, literalmente, o que se chama "the non place urban realm".
Não acho mesmo que a Ilha tenha adquirido o status de não lugar. Talvez seja um fenômeno que ecape a qualquer categorização.
Um abraço,

Lina Faria disse...

Obrigada, Eduardo.

Dani, fui aos teus blogs e adorei. Vou acompanhar, conforme o tempo.
Volte sempre!

Jorge Pinheiro disse...

E eu a julgar que não tinha gente! Muito bem descrito. O chalet suiço chama a atenção. Vamos seguindo atentos.

Beth Kasper disse...

Você foi à Ilha pra descansar/acompanhar sua filha, e nos presenteou um belo trabalho antropológico além de nos mostrar pelas fotos o que constataste.
Irregulares ou não as construções são pra lá de criativas.Realmente lembram Mondrian!

peri s.c. disse...

Fazia tempo que não ouvia ( lia ) a expressão " arquitetura vernacular ".

Nos chalés " auiçoa" pode-se fazer depósitios de origem suspeita em contas numeradas ?

Lina Faria disse...

Peri :
acho que no máximo escondem alguma safra especial de maconha, hehehe
Ou quem sabe umas latinhas que na década de oitenta um navio despejou na nossa costa maritima.
Algum cinquentão aí se lembra da expressão "da lata"?
Quanto a expressão "vernacular", fessor, é coisa de quem se seduz pela a arquitetura através, entre outros quesitos, da antropologia.


Pois é Jorge.
Acho que minha responsa sobre essa postagem foi o mêdo de ela influenciar no roteiro de vocês.
Até duas décadas atrás, valeria. Hoje não, pra quem tem pouco tempo.
Mas fica o convite para virem a Curitiba. Aqui terão onde ficar e será um prazer. Questão de prioridade.

Liz, sou compulsiva no fotografar. É a forma de trazer um pouco de tudo que me rouba a atenção.

Quem sou eu

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Curitiba, Paraná, Brazil
Sou fotógrafa e curiosa. Vivo na cidade de Curitiba e gosto de olhar e documentar a relação das pessoas com os espaços em geral. Levo isso ao pé da letra, quando fotografo as ruas e sua ocupação desordenada. Também nos interiores das submoradias, longe de qualquer padrão de ordem mas com um sentido de segurança, mesmo que penduradas e vulneráveis à primeira chuva. Mas tudo isso tendo como compromisso a beleza, a harmonia. Mesmo na realidade de uma favela, resgatar a dignidade através do belo é o que me interessa. Gosto também, e muito, de design e arquitetura. Da social à contemporânea, o gosto pelo ocupar me interessa. contato: linafaria@yahoo.com.br
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